
RMR
As múltiplas periferias da RMR retratam o fim – e o recomeço – desse mundo
A categoria Região Metropolitana do Recife, composta por 4 vídeos e um ensaio fotográfico, traz, ao mesmo tempo, uma versatilidade de estratégias narrativas e uma multiplicidade de sujeitos periféricos que falam. De animação a ficção, passando pelo registro cotidiano de uma criança, a mostra apresenta também um conjunto de colagens fotográficas e um vídeo-diário. De um lado, os relatos de uma jovem mãe preta, do outro, o olhar de uma criança se somam a um olhar indígena decolonial e à solidão de jovens em isolamento social. No conjunto, compõe-se um recorte que atravessa o fim e o recomeço desse mundo.
Transformando a câmera fotográfica em um avião de brinquedo, Adryan, uma criança, registra sua intimidade lúdica e nos convida para uma imersão numa fabulação infantil com uma delicadeza onírica. O projeto “O mundo em Cima do Avião”, orientado por Rayanna Maria, traz um olhar inocente e experimentador, próprio da infância, que nos instiga a imaginação e a esperança no porvir. Larissa Montanhas, por sua vez, partilha reflexões de uma maternagem em tempos de pandemia. Em “Diário de uma Mãe Preta em Quarentena” vemos se misturarem, em um formato confessional, temas como o isolamento social, preocupações com o futuro de um filho de apenas um ano e questionamentos sobre o corpo pós maternidade.
Já na animação “Isolamento”, Anderson Oliveira recria o cotidiano neurótico e solitário que marca a nossa contemporaneidade. Através de repetições, hipérboles e uma montagem frenética, entramos em contato com a angústia e a dor de um personagem um tanto autobiográfico, como revela o autor, mas, de uma maneira alegórica, de todxs aqueles que estão sós durante a pior crise sanitária da nossa geração. A solidão também é tema da ficção “Oito da Noite” de Amanda du Brasil. O curta-metragem, que se passa neste Recife contemporâneo – rituais de higienização com álcool e a morte do menino Miguel – é todo filmado dentro de casa e retrata a dura coincidência entre o fim de um relacionamento amoroso e a pandemia de Covid-19. Por último, Kadu Xukuru assina o ensaio “Indígenas Favelados” com oito foto-colagens, que nos oferecem uma perspectiva indígena a um só tempo decolonial e contemporânea; futurista e ancestral.
